quarta-feira, 25 de novembro de 2009

"Sobre a Arte"

"SOBRE A ARTE ( Texto escrito em 17/07/2001)."

Existe um conto que diz que havia um velho sábio que vagava de povoado em povoado a fim de ministrar ensinamentos espirituais aos aldeãos, e para isso necessitava antes descobrir-lhes o nível psicológico em que se encontravam, para isso usava um método eficiente de investigá-los a nível grupal: ele ouvia a suas músicas, desse modo, saberia como andava o povo espiritualmente, e como poderia lhes ajudar.

Parece correta atitude do velho sábio? Se a resposta for afirmativa, teríamos motivos para nos envergonhar, nós contemporâneos? Têm surgido novas “Mona Lisas”? Novas Pietás? Nonas Sinfonias? Divinas Comédias? Existiria uma forma de arte universal e perene que teria sido captada por alguns mestres, dentro de seu tempo, da qual nos afastamos quase por completo atualmente?

Seria perigoso afirmar a nossa perca de espiritualidade atual, falta de inspiração em que nos encontramos. Tocar nesses pontos, talvez seria de fato cair na maldição de alguns, que com razão se manifestariam, pois, deve-se levar em conta que o artista é livre para se expressar como julguem correto. Mas se levar-nos em conta a situação atual do mundo, que se tornou mais violento, mais desumano, e a arte tão distante do que foi na renascença, terra relação entre si estes dois itens ? O mundo é o que o homem faz dele, a arte é fruto do que o artista leva dentro de si. O artista é homem. Pensemos...

Lembremos, também que os grandes mestres, em suas épocas, tiveram problemas de compreensão, muitos foram admirados, porém, foram compreendidos a fundo ? E os pontos incógnitos até hoje nas grandes obras primas ? Michelângelo ao pintar “A Criação dos Astros” incluiu quatro crianças ao lado do ''Ancião dos Dias'' , que ordena imperiosamente ao sol e a Lua; o que significaria estas crianças ? Os quatro elementos, fundamentais à criação ? A história da arte não conseguiu decifrar o que representavam. Teria Michelângelo captado essa forma de arte, entre outros, que o destacava dos demais em seu tempo ? Teria ele um nível de consciência concernente à essa forma de arte ? Teria ele, através se sua arte, dado certos ''recados'' a outros que possuíam o mesmo nível ?

São muitas as perguntas, e também são muitos os exemplos, nos mais diferentes campos : Paracelso, Dante, Hipócrates, Beethoven,...No entanto, relativo à pintura, a qual aqui nos detemos, os exemplos são dos mais curiosos : O que quis representar Leonardo ao pintar uma trilha espiral à esquerda da ''Gioconda'', e outro, reto, à direita ? Um caminho direto para se chegar à divindade ? Religare ? E o espiral, talvez, onde se dê voltas e não se chega a lugar algum ? O que o levaria a fazer um desenho da coluna vertebral com dois cordões entrelaçados à mesma ? Teria também a estudar a anatomia oculta do ser humano ? Seria esses cordões os mesmos ''Idá'' e ''Pingalá'' citados nas religiões indostânicas ?

Se poderia dizer que o estranho Caravaggio faria parte do fluxo dessa linhagem ? Fazer quadros com pessoas humildes sendo abençoadas pelo menino, nos braços da Virgem, seria apenas uma aversão pessoal à burguesia de sua época ? Ou um ''recado'' de que a humildade é uma grande virtude da alma ? E os Santos e Cristos, as vezes rejeitados pelo tratamento excessivamente humano que tinham? Quisera ele mostrar que o divino se alcança a partir do humano? Incontestavelmente, estes mestres fizeram da espiritualidade, da busca do Divino, uma parte complementar ás suas obras de arte.

Deste modo, a arte universal e o nível superior de consciência que a assimila, estariam bem próximo da suprema Verdade Divina, ou senão à própria. Esse nível psicológico traria consigo faculdades distintas das ordinárias, e comum na maioria das pessoas : Clarividência ? Intuição ? Inspiração elevada ? Alguns Mestres se calaram a respeito do assunto, mas esse não foi o caso do romântico inglês William Blake. Místico, visionário, poeta, prosador, gravador e pintor, nunca escondeu as experiências visionárias com a qual convivia desde a tenra idade até o fim de sua vida. Terra ele aberta as suas “portas da percepção” ? Que figuras tão estranhas ele pintava : Ora desproporcionais, mal sombreadas, mas, deveria isso ser levado em consideração? Já que, segundo o próprio Blake, pintava aquilo que via? Porque pintura tão pouco refinadas causaram e ainda causaram e ainda estupefação, a ponto de se buscar o que pensava esse homem, o que via? Por qual razão um homem mentiria tanto? Por dinheiro? É sabido que pouquíssimo crédito lhe davam em seu tempo. Se assim foi, porque continuaria mentindo a vida toda ?

Além de tudo, pode-se apostar algo mais na existência de um ramo superior de arte universal, posto que a história da arte chegou a um denominador comum referente a alguns dos grandes mestres, embora apresentassem algumas características de sua época, pareciam não pertencer a ela, e sim á todas. Suas preocupações não se resumiam apenas aos problemas estéticos, espaciais e plásticos, mas também ao temático, seus simbolismos e a tarefa de uní-los a um princípio de proporcionar à humanidade, através de sua arte, uma forma de melhora psíquica, moral e espiritual para se alcançar a divindade...

"O homem só atinge a perfeição quando compreende o belo"

Michelangelo Buonarroti

Assim, a arte segue fiel à sua função entre os homens, que é de mostrar a si mesmos como se encontram interiormente, permitindo que somente aqueles de coração mais ousados a possuam.

As respostas às mais profundas perguntas seguem existindo, porém ocultas no mais profundo de nós mesmos...

"Homo Nosce Te Ipsum..." (Homem conhece-te a ti mesmo..)

Cesar Morais.

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